A Nova Rota da Seda, também conhecida como “One Belt, One Road” (Um Cinturão, Uma Rota), é o principal empreendimento de política externa do presidente Xi Jinping.
Com o objetivo de reconfigurar a dinâmica econômica e geopolítica global, esse projeto visa conectar a China a diversos continentes por meio de uma vasta rede de rotas terrestres e marítimas.
Neste artigo serão abordados os seguintes tópicos:
- O lançamento da “One Belt, One Road”
- Os objetivos da iniciativa
- Componentes da “One Belt, One Road”
- Os projetos de infraestrutura
- Financiamento para “One Belt, One Road”
- Impactos geopolíticos da iniciativa
- A influência do “One Belt, One Road” na América Latina
- A “One Belt, One Road” e sua relação com o Brasil
O lançamento da “One Belt, One Road”
A iniciativa “One Belt, One Road” (Um Cinturão, Uma Rota) foi oficialmente lançada pelo presidente chinês Xi Jinping em 2013, em dois discursos distintos: um na Universidade Nazarbayev, no Cazaquistão, em setembro, e o outro na Indonésia, em outubro do mesmo ano.
Considerada uma das maiores empreitadas de infraestrutura e desenvolvimento da história, abrange mais de 60 países e cerca de dois terços da população mundial.
O projeto busca criar uma nova “Rota da Seda” para o século XXI, tanto por terra quanto por mar.
Na perspectiva chinesa, “One Belt, One Road” é vista como uma forma de promover a “cooperação win-win” e o desenvolvimento mútuo, sendo apresentada como uma contribuição da China para a ordem econômica global.
Os objetivos da iniciativa
A iniciativa “One Belt, One Road” visa uma vasta rede de infraestrutura terrestre e marítima conectando a China a outros continentes, promovendo a cooperação econômica e o comércio entre os países participantes, além de aumentar a influência geopolítica e econômica da China globalmente.
Entre os objetivos específicos da proposta estão:
- Estimular o desenvolvimento econômico em regiões menos desenvolvidas da China;
- Buscar novos mercados para produtos chineses e empresas de construção;
- Garantir acesso a recursos naturais e energéticos;
- Promover a internacionalização do yuan (moeda chinesa);
- Fortalecer os laços culturais e diplomáticos com os países participantes.
Componentes da “One Belt, One Road”
A “One Belt, One Road” é composta por várias rotas-chave que integram a China com outros países, incluindo corredores econômicos terrestres e marítimos, bem como componentes digitais e energéticos.
O Cinturão Econômico da Rota da Seda consiste em rotas terrestres que conectam a China à Europa por meio da Ásia Central e do Oriente Médio, envolvendo a construção de ferrovias, rodovias, oleodutos e gasodutos.
Essa rede busca integrar economicamente a Eurásia, facilitando o comércio e o transporte de mercadorias através de corredores como China-Mongólia-Rússia, China-Ásia Central-Ásia Ocidental e China-Península Indochinesa.
A Rota Marítima da Seda do Século XXI conecta a costa leste da China ao Mediterrâneo por meio do Sudeste Asiático, Sul da Ásia e África Oriental.
Ela inclui a construção e modernização de portos ao longo da rota, com o objetivo de aumentar a conectividade marítima e o comércio entre a Ásia, a África e a Europa.
Os principais pontos dessa rota incluem cidades como Quanzhou, Fuzhou, Guangzhou, Colombo, Gwadar, Djibouti e Piraeus.
Os corredores econômicos são rotas estratégicas que reforçam a conectividade da iniciativa. Entre eles estão os corredores:
- China-Paquistão, que liga Xinjiang ao porto de Gwadar;
- Bangladesh-China-Índia-Myanmar, que conecta o sul da China à Índia por meio de Myanmar e Bangladesh; e
- China-Península Indochinesa, que conecta o sul da China ao Sudeste Asiático.
A infraestrutura digital envolve o desenvolvimento de redes de fibra óptica, sistemas de telecomunicações, tecnologias de 5G, computação em nuvem e cidades inteligentes, criando o que é conhecido como a “Rota da Seda Digital”.
Na cooperação energética, a iniciativa se concentra na construção de oleodutos e gasodutos, além de projetos de energia renovável, visando garantir a segurança energética da China e dos países participantes.
Por fim, as zonas de cooperação econômica incluem parques industriais e zonas econômicas especiais ao longo das rotas, com o objetivo de promover a industrialização e o desenvolvimento econômico dos países envolvidos.
Os projetos de infraestrutura
Entre os principais projetos de infraestrutura estão a construção e modernização de ferrovias, como a linha China-Laos e a Jakarta-Bandung na Indonésia, além da expansão de portos estratégicos como Gwadar no Paquistão e Piraeus na Grécia.
As rodovias também desempenham um papel essencial, com a construção de autoestradas e corredores rodoviários, além de melhorias em estradas existentes para facilitar o transporte de mercadorias.
Aeroportos também estão sendo construídos e modernizados para melhorar a conectividade aérea entre os países.
A construção de oleodutos e gasodutos é fundamental para o transporte de energia, como exemplificado pelo gasoduto China-Ásia Central.
As redes de telecomunicações são aprimoradas com a implementação de infraestrutura de fibra óptica e 5G, além do desenvolvimento de cidades inteligentes e tecnologias digitais.
Os projetos de redes de energia incluem geração e transmissão de energia, com foco crescente em energias renováveis.
Já os parques industriais e zonas econômicas especiais são estabelecidos para promover a industrialização e o desenvolvimento econômico dos países participantes.
Financiamento para “One Belt, One Road”
Entre as principais fontes de financiamento, destaca-se o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), criado em 2016 sob a liderança da China, com um capital inicial de 100 bilhões de dólares e foco em projetos de infraestrutura na Ásia.
Outra fonte importante é o Fundo da Rota da Seda, estabelecido pela China em 2014, com 40 bilhões de dólares em capital para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento econômico.
Além disso, bancos estatais chineses, como o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco de Exportação e Importação da China, fornecem empréstimos e financiamentos para projetos específicos.
O volume de investimentos da iniciativa é impressionante, com estimativas apontando um total de cerca de 1 trilhão de dólares, sendo que a China já investiu mais de 200 bilhões de dólares desde 2013.
As modalidades de financiamento incluem empréstimos bilaterais, parcerias público-privadas, investimentos diretos e a emissão de títulos.
No entanto, a iniciativa também enfrenta críticas e preocupações. Alguns acusam a China de criar uma “armadilha da dívida” para os países receptores, devido à falta de transparência nos termos dos empréstimos, além de apontar riscos ambientais e sociais de alguns projetos e questionar os padrões de governança envolvidos.
No plano geopolítico, o financiamento da iniciativa tem aumentado a influência econômica e política da China globalmente, gerando preocupações em países ocidentais sobre a dependência financeira crescente de várias nações em relação à China.
Entre os desafios, estão a sustentabilidade financeira de longo prazo dos projetos, a garantia de retorno dos investimentos e a mitigação de riscos políticos e econômicos em países instáveis.
Impactos geopolíticos da iniciativa
Por meio de investimentos massivos em infraestrutura e acordos econômicos, a China fortalece suas relações diplomáticas e seu soft power, expandindo a influência da China globalmente e reconfigurando o equilíbrio de poder internacional.
Essa expansão da presença chinesa está alterando equilíbrios geopolíticos em áreas tradicionalmente sob a influência de potências como os EUA, Rússia e países europeus.
Como resultado, novas alianças e realinhamentos estratégicos entre países estão emergindo.
A crescente dependência econômica de muitos países participantes, especialmente os menores ou menos desenvolvidos, gera preocupações sobre o uso dessa dependência como alavanca política pela China.
Esse aspecto alimenta tensões com outras potências, como os EUA, Índia e Japão, que enxergam a expansão da influência chinesa como uma ameaça, levando a possíveis estratégias de contenção ou competição.
A iniciativa também tem o potencial de alterar significativamente as rotas de comércio global, transformando os fluxos de mercadorias e marginalizando os hubs comerciais existentes.
Questões de segurança surgem com a presença chinesa em áreas estratégicas, como portos, levantando preocupações sobre possíveis implicações militares no futuro.
Além disso, a “One Belt, One Road” pode impactar o funcionamento e a relevância de instituições internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, influenciando a ordem econômica global.
Esses impactos demonstram que a iniciativa vai muito além de um projeto de infraestrutura, possuindo o potencial de remodelar a ordem geopolítica mundial de maneira significativa.
A influência do “One Belt, One Road” na América Latina
No início, a América Latina não fazia parte da iniciativa chinesa. No entanto, em 2017, Xi Jinping descreveu a região como uma extensão natural da Rota da Seda Marítima do Século XXI, demonstrando o interesse da China em fortalecer laços.
Em 2018, no Fórum China-CEPAL, em Santiago, o país convidou os países latino-americanos a participar da iniciativa, resultando na assinatura de uma declaração especial.
Desde então, vários países da região, como Panamá, Argentina, Chile e Peru, aderiram à “One Belt, One Road”, assinando memorandos de entendimento com a China. Porém, 13 países da região, incluindo Brasil, México e Colômbia, ainda não aderiram à iniciativa.
O projeto fez com que a China superasse os EUA como principal parceiro comercial da América do Sul e Central. O governo chinês defende que o comércio e os investimentos na América Latina são benéficos para ambas as partes, especialmente para os países envolvidos na iniciativa.
Um dos grandes casos de influência da China na região latino-americana é o Peru. O comércio entre Peru e China alcançou US$ 33 bilhões em 2022, impulsionado pela demanda chinesa por cobre.
Os investimentos chineses no Peru somam cerca de US$ 24 bilhões, com destaque para setores como mineração, energia e transporte. O mega Porto de Chancay, parte da Nova Rota da Seda, está em construção desde 2018 e deve ser concluído em 2024, consolidando a posição da China no país e incentivando o comércio e novos investimentos.
A “One Belt, One Road” e sua relação com o Brasil
A relação entre China e Brasil é marcada pela parceria estratégica estabelecida em 1993, sendo a primeira desse tipo entre países em desenvolvimento. Em 2012, essa relação foi elevada para uma “parceria estratégica global”, refletindo uma cooperação que vai além do campo bilateral.
No comércio bilateral, a China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. Em 2022, o comércio entre os dois países atingiu 150,4 bilhões de dólares, com as exportações brasileiras dominadas por produtos agrícolas, como soja, e minérios.
Por outro lado, as importações do Brasil da China são principalmente de produtos manufaturados e tecnológicos.
Os investimentos chineses no Brasil têm crescido, especialmente nos setores de infraestrutura, energia, petróleo e gás.
Em apoio a essa cooperação, foi criado o Fundo Brasil-China de Cooperação para a Expansão da Capacidade Produtiva, com um aporte total de 20 bilhões de dólares.
A cooperação científica e tecnológica entre os dois países também é significativa, com destaque para o programa conjunto de satélites CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite).
Além disso, há um interesse mútuo em ampliar a colaboração em áreas como tecnologia 5G e inteligência artificial. Em fóruns multilaterais, Brasil e China colaboram em organizações como o BRICS, G20 e BASIC, especialmente em questões climáticas.
Embora o Brasil ainda não tenha aderido formalmente à iniciativa, a relação entre China e Brasil é robusta, destacando-se no comércio bilateral e em investimentos em infraestrutura e tecnologia.
Dentre os desafios da parceria bilateral, há preocupações quanto à dependência econômica e à competição em alguns setores industriais.
Para o futuro, o Brasil busca diversificar suas exportações para a China, indo além das commodities, e atrair mais investimentos chineses, especialmente em programas de concessões e privatizações.
Há também um interesse em aprofundar a cooperação em ciência, tecnologia e inovação.

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