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One Belt, One Road: conectando continentes e redefinindo as fronteiras econômicas

A Nova Rota da Seda, também conhecida como “One Belt, One Road” (Um Cinturão, Uma Rota), é o principal empreendimento de política externa do presidente Xi Jinping. 

Com o objetivo de reconfigurar a dinâmica econômica e geopolítica global, esse projeto visa conectar a China a diversos continentes por meio de uma vasta rede de rotas terrestres e marítimas. 

Neste artigo serão abordados os seguintes tópicos:

  1. O lançamento da “One Belt, One Road”
  2. Os objetivos da iniciativa
  3. Componentes da “One Belt, One Road”
  4. Os projetos de infraestrutura
  5. Financiamento para “One Belt, One Road”
  6. Impactos geopolíticos da iniciativa
  7. A influência do “One Belt, One Road” na América Latina
  8. A “One Belt, One Road” e sua relação com o Brasil

O lançamento da “One Belt, One Road”

A iniciativa “One Belt, One Road” (Um Cinturão, Uma Rota) foi oficialmente lançada pelo presidente chinês Xi Jinping em 2013, em dois discursos distintos: um na Universidade Nazarbayev, no Cazaquistão, em setembro, e o outro na Indonésia, em outubro do mesmo ano. 

Considerada uma das maiores empreitadas de infraestrutura e desenvolvimento da história, abrange mais de 60 países e cerca de dois terços da população mundial. 

O projeto busca criar uma nova “Rota da Seda” para o século XXI, tanto por terra quanto por mar.

Na perspectiva chinesa, “One Belt, One Road” é vista como uma forma de promover a “cooperação win-win” e o desenvolvimento mútuo, sendo apresentada como uma contribuição da China para a ordem econômica global. 

Os objetivos da iniciativa

A iniciativa “One Belt, One Road” visa uma vasta rede de infraestrutura terrestre e marítima conectando a China a outros continentes, promovendo a cooperação econômica e o comércio entre os países participantes, além de aumentar a influência geopolítica e econômica da China globalmente.

Entre os objetivos específicos da proposta estão:

  • Estimular o desenvolvimento econômico em regiões menos desenvolvidas da China;
  • Buscar novos mercados para produtos chineses e empresas de construção;
  • Garantir acesso a recursos naturais e energéticos;
  • Promover a internacionalização do yuan (moeda chinesa);
  • Fortalecer os laços culturais e diplomáticos com os países participantes.

Componentes da “One Belt, One Road”

A “One Belt, One Road” é composta por várias rotas-chave que integram a China com outros países, incluindo corredores econômicos terrestres e marítimos, bem como componentes digitais e energéticos.

O Cinturão Econômico da Rota da Seda consiste em rotas terrestres que conectam a China à Europa por meio da Ásia Central e do Oriente Médio, envolvendo a construção de ferrovias, rodovias, oleodutos e gasodutos. 

Essa rede busca integrar economicamente a Eurásia, facilitando o comércio e o transporte de mercadorias através de corredores como China-Mongólia-Rússia, China-Ásia Central-Ásia Ocidental e China-Península Indochinesa.

A Rota Marítima da Seda do Século XXI conecta a costa leste da China ao Mediterrâneo por meio do Sudeste Asiático, Sul da Ásia e África Oriental. 

Ela inclui a construção e modernização de portos ao longo da rota, com o objetivo de aumentar a conectividade marítima e o comércio entre a Ásia, a África e a Europa. 

Os principais pontos dessa rota incluem cidades como Quanzhou, Fuzhou, Guangzhou, Colombo, Gwadar, Djibouti e Piraeus.

Os corredores econômicos são rotas estratégicas que reforçam a conectividade da iniciativa. Entre eles estão os corredores:

  • China-Paquistão, que liga Xinjiang ao porto de Gwadar; 
  • Bangladesh-China-Índia-Myanmar, que conecta o sul da China à Índia por meio de Myanmar e Bangladesh; e 
  • China-Península Indochinesa, que conecta o sul da China ao Sudeste Asiático.

A infraestrutura digital envolve o desenvolvimento de redes de fibra óptica, sistemas de telecomunicações, tecnologias de 5G, computação em nuvem e cidades inteligentes, criando o que é conhecido como a “Rota da Seda Digital”.

Na cooperação energética, a iniciativa se concentra na construção de oleodutos e gasodutos, além de projetos de energia renovável, visando garantir a segurança energética da China e dos países participantes.

Por fim, as zonas de cooperação econômica incluem parques industriais e zonas econômicas especiais ao longo das rotas, com o objetivo de promover a industrialização e o desenvolvimento econômico dos países envolvidos.

Os projetos de infraestrutura

Entre os principais projetos de infraestrutura estão a construção e modernização de ferrovias, como a linha China-Laos e a Jakarta-Bandung na Indonésia, além da expansão de portos estratégicos como Gwadar no Paquistão e Piraeus na Grécia.

As rodovias também desempenham um papel essencial, com a construção de autoestradas e corredores rodoviários, além de melhorias em estradas existentes para facilitar o transporte de mercadorias.

Aeroportos também estão sendo construídos e modernizados para melhorar a conectividade aérea entre os países.

A construção de oleodutos e gasodutos é fundamental para o transporte de energia, como exemplificado pelo gasoduto China-Ásia Central. 

As redes de telecomunicações são aprimoradas com a implementação de infraestrutura de fibra óptica e 5G, além do desenvolvimento de cidades inteligentes e tecnologias digitais.

Os projetos de redes de energia incluem geração e transmissão de energia, com foco crescente em energias renováveis. 

Já os parques industriais e zonas econômicas especiais são estabelecidos para promover a industrialização e o desenvolvimento econômico dos países participantes.

Financiamento para “One Belt, One Road”

Entre as principais fontes de financiamento, destaca-se o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), criado em 2016 sob a liderança da China, com um capital inicial de 100 bilhões de dólares e foco em projetos de infraestrutura na Ásia. 

Outra fonte importante é o Fundo da Rota da Seda, estabelecido pela China em 2014, com 40 bilhões de dólares em capital para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento econômico. 

Além disso, bancos estatais chineses, como o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco de Exportação e Importação da China, fornecem empréstimos e financiamentos para projetos específicos.

O volume de investimentos da iniciativa é impressionante, com estimativas apontando um total de cerca de 1 trilhão de dólares, sendo que a China já investiu mais de 200 bilhões de dólares desde 2013. 

As modalidades de financiamento incluem empréstimos bilaterais, parcerias público-privadas, investimentos diretos e a emissão de títulos.

No entanto, a iniciativa também enfrenta críticas e preocupações. Alguns acusam a China de criar uma “armadilha da dívida” para os países receptores, devido à falta de transparência nos termos dos empréstimos, além de apontar riscos ambientais e sociais de alguns projetos e questionar os padrões de governança envolvidos.

No plano geopolítico, o financiamento da iniciativa tem aumentado a influência econômica e política da China globalmente, gerando preocupações em países ocidentais sobre a dependência financeira crescente de várias nações em relação à China. 

Entre os desafios, estão a sustentabilidade financeira de longo prazo dos projetos, a garantia de retorno dos investimentos e a mitigação de riscos políticos e econômicos em países instáveis.

Impactos geopolíticos da iniciativa

Por meio de investimentos massivos em infraestrutura e acordos econômicos, a China fortalece suas relações diplomáticas e seu soft power, expandindo a influência da China globalmente e reconfigurando o equilíbrio de poder internacional.

Essa expansão da presença chinesa está alterando equilíbrios geopolíticos em áreas tradicionalmente sob a influência de potências como os EUA, Rússia e países europeus. 

Como resultado, novas alianças e realinhamentos estratégicos entre países estão emergindo.

A crescente dependência econômica de muitos países participantes, especialmente os menores ou menos desenvolvidos, gera preocupações sobre o uso dessa dependência como alavanca política pela China. 

Esse aspecto alimenta tensões com outras potências, como os EUA, Índia e Japão, que enxergam a expansão da influência chinesa como uma ameaça, levando a possíveis estratégias de contenção ou competição.

A iniciativa também tem o potencial de alterar significativamente as rotas de comércio global, transformando os fluxos de mercadorias e marginalizando os hubs comerciais existentes. 

Questões de segurança surgem com a presença chinesa em áreas estratégicas, como portos, levantando preocupações sobre possíveis implicações militares no futuro.

Além disso, a “One Belt, One Road” pode impactar o funcionamento e a relevância de instituições internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, influenciando a ordem econômica global. 

Esses impactos demonstram que a iniciativa vai muito além de um projeto de infraestrutura, possuindo o potencial de remodelar a ordem geopolítica mundial de maneira significativa.

A influência do “One Belt, One Road” na América Latina

No início, a América Latina não fazia parte da iniciativa chinesa. No entanto, em 2017, Xi Jinping descreveu a região como uma extensão natural da Rota da Seda Marítima do Século XXI, demonstrando o interesse da China em fortalecer laços.

Em 2018, no Fórum China-CEPAL, em Santiago, o país convidou os países latino-americanos a participar da iniciativa, resultando na assinatura de uma declaração especial.

Desde então, vários países da região, como Panamá, Argentina, Chile e Peru, aderiram à “One Belt, One Road”, assinando memorandos de entendimento com a China. Porém, 13 países da região, incluindo Brasil, México e Colômbia, ainda não aderiram à iniciativa. 

O projeto fez com que a China superasse os EUA como principal parceiro comercial da América do Sul e Central. O governo chinês defende que o comércio e os investimentos na América Latina são benéficos para ambas as partes, especialmente para os países envolvidos na iniciativa.

Um dos grandes casos de influência da China na região latino-americana é o Peru. O comércio entre Peru e China alcançou US$ 33 bilhões em 2022, impulsionado pela demanda chinesa por cobre. 

Os investimentos chineses no Peru somam cerca de US$ 24 bilhões, com destaque para setores como mineração, energia e transporte. O mega Porto de Chancay, parte da Nova Rota da Seda, está em construção desde 2018 e deve ser concluído em 2024, consolidando a posição da China no país e incentivando o comércio e novos investimentos.

A “One Belt, One Road” e sua relação com o Brasil

A relação entre China e Brasil é marcada pela parceria estratégica estabelecida em 1993, sendo a primeira desse tipo entre países em desenvolvimento. Em 2012, essa relação foi elevada para uma “parceria estratégica global”, refletindo uma cooperação que vai além do campo bilateral.

No comércio bilateral, a China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. Em 2022, o comércio entre os dois países atingiu 150,4 bilhões de dólares, com as exportações brasileiras dominadas por produtos agrícolas, como soja, e minérios. 

Por outro lado, as importações do Brasil da China são principalmente de produtos manufaturados e tecnológicos.

Os investimentos chineses no Brasil têm crescido, especialmente nos setores de infraestrutura, energia, petróleo e gás. 

Em apoio a essa cooperação, foi criado o Fundo Brasil-China de Cooperação para a Expansão da Capacidade Produtiva, com um aporte total de 20 bilhões de dólares.

A cooperação científica e tecnológica entre os dois países também é significativa, com destaque para o programa conjunto de satélites CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite). 

Além disso, há um interesse mútuo em ampliar a colaboração em áreas como tecnologia 5G e inteligência artificial. Em fóruns multilaterais, Brasil e China colaboram em organizações como o BRICS, G20 e BASIC, especialmente em questões climáticas. 

Embora o Brasil ainda não tenha aderido formalmente à iniciativa, a relação entre China e Brasil é robusta, destacando-se no comércio bilateral e em investimentos em infraestrutura e tecnologia.

Dentre os desafios da parceria bilateral, há preocupações quanto à dependência econômica e à competição em alguns setores industriais.

Para o futuro, o Brasil busca diversificar suas exportações para a China, indo além das commodities, e atrair mais investimentos chineses, especialmente em programas de concessões e privatizações. 

Há também um interesse em aprofundar a cooperação em ciência, tecnologia e inovação.

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