Em agosto de 2024, as relações diplomáticas Brasil-China celebraram 50 anos. Desde 1974, as chancelarias dos dois países têm construído um relacionamento baseado no respeito, na confiança e na busca de benefícios para ambas as sociedades.
Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil e uma das mais significativas fontes de investimento externo no país.
A relação bilateral é estruturada pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), criada em 2004, durante o primeiro mandato do Presidente Lula, e foi elevada ao nível de parceria estratégica global em 2012.
A visita de Estado do Presidente Lula à China, em abril de 2023, inaugurou uma nova fase nas relações, marcada por uma série de encontros bilaterais de alto nível, incluindo ministros, governadores e parlamentares.
Nesse post, nós vamos abordar os seguintes pontos:
- Aspectos históricos e políticos
- Comércio e economia
- Áreas de cooperação
- Desafios e oportunidades
- O posicionamento do Brasil sobre Taiwan
Aspectos históricos e políticos
As relações entre Brasil e China têm uma longa história que remonta ao século XIX. Em 1881, os dois países assinaram o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação, e em 1883, o Brasil estabeleceu seu primeiro consulado em Xangai, marcando o início oficial das relações diplomáticas.
No século XX, a trajetória das relações foi marcada por momentos significativos, como a revolução de Mao Zedong em 1949, quando o Brasil manteve suas relações diplomáticas com Taiwan, e a visita do Vice-Presidente João Goulart à China em 1961, que gerou polêmica no Brasil.
O estabelecimento das relações diplomáticas entre Brasil e a República Popular da China ocorreu em 1974, marcando uma nova era de cooperação. A partir de então, a parceria evoluiu de forma contínua.
Em 1993, foi estabelecida a “Parceria Estratégica” entre os dois países, que foi seguida pela criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN) em 2004.
Em 2012, a relação foi elevada ao nível de “Parceria Estratégica Global”, refletindo o aprofundamento da cooperação em diversas áreas.
As visitas de alto nível entre líderes dos dois países são frequentes e têm contribuído para o fortalecimento dos laços diplomáticos. Planos de cooperação, como o Plano de Ação Conjunta 2015-2021 e o Plano Decenal de Cooperação, atualizado para 2022-2031, têm guiado o desenvolvimento das relações bilaterais.
Assim, as relações entre Brasil e China têm se intensificado significativamente nas últimas décadas, abrangendo aspectos políticos, econômicos e de cooperação técnica, refletindo a importância estratégica que ambos os países atribuem a esta parceria.
Comércio e economia
A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009, e em 2023, o comércio bilateral entre os dois países alcançou a impressionante marca de US$ 157 bilhões.
As exportações brasileiras para a China são predominantemente compostas por commodities agrícolas, com destaque para a soja, além de minérios e petróleo. Por outro lado, as importações brasileiras da China são majoritariamente de produtos manufaturados e equipamentos eletrônicos.
Nos últimos anos, a China também se tornou um dos principais investidores no Brasil, com investimentos concentrados em áreas como infraestrutura, energia, agronegócio e tecnologia.
A cooperação econômica entre os dois países é estruturada por mecanismos como a COSBAN, que conta com subcomissões dedicadas a temas econômicos e comerciais. Além disso, o Plano de Ação Conjunta 2015-2021 e o Plano Decenal de Cooperação (2022-2031) estabelecem metas e diretrizes para o desenvolvimento contínuo dessa parceria.
Áreas de cooperação
A cooperação entre Brasil e China abrange uma ampla gama de áreas, refletindo a profundidade e a abrangência da parceria estratégica entre os dois países.
- Cooperação científica e tecnológica
Um dos principais pilares dessa cooperação é o Programa CBERS (Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres), uma iniciativa pioneira no campo da alta tecnologia entre países em desenvolvimento.
Desde o início do programa, já foram lançados seis satélites, com o último lançamento ocorrendo em 2019, a partir da base de Taiyuan, na China.
Além do programa CBERS, outras áreas de cooperação científica e tecnológica incluem biotecnologia, informática e o desenvolvimento de novos materiais.
- Cooperação econômica e comercial
No campo econômico, o Fundo Brasil-China de Cooperação para a Expansão da Capacidade Produtiva foi criado em 2017 com um aporte de US$ 20 bilhões.
O fundo foca em investimentos em infraestrutura logística e no setor industrial. Em termos de comércio bilateral, a corrente Brasil-China ultrapassou US$ 157 bilhões, em 2023.
No que tange a saúde pública, Brasil e China têm colaborado em iniciativas conjuntas no combate à AIDS, bem como na produção e comercialização de medicamentos genéricos.
Além disso, há um esforço conjunto em pesquisa sobre medicina tradicional e o desenvolvimento de novos medicamentos.
- Cooperação em defesa e assuntos militares
A cooperação em defesa e assuntos militares inclui o diálogo sobre questões estratégicas e o intercâmbio de informações entre os dois países, fortalecendo a confiança mútua e a segurança.
- Cooperação ambiental e energética
Brasil e China também têm trabalhado juntos em questões ambientais e energéticas. Ambos são participantes do grupo BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China), onde coordenam posições em negociações climáticas internacionais.
Além disso, cooperam em energias renováveis e tecnologias limpas, áreas fundamentais para o desenvolvimento sustentável de ambos os países.
No campo cultural e educacional, a cooperação inclui intercâmbios acadêmicos e a promoção do ensino de línguas, como o português e o mandarim.
Há também colaborações em áreas culturais, fortalecendo o entendimento e a conexão entre as sociedades de ambos os países.
A colaboração entre Brasil e China também se estende a fóruns multilaterais, como os grupos BRICS e o G20, onde ambos os países atuam de forma conjunta. Além disso, há uma coordenação de posições em organismos internacionais, como na rodada Doha na OMC.
Desafios e oportunidades
Um dos principais desafios da relação bilateral é o desequilíbrio comercial, uma vez que as exportações brasileiras estão concentradas em poucos produtos básicos, principalmente commodities, o que torna a economia brasileira vulnerável às oscilações nos preços desses produtos.
Além disso, o Brasil tem enfrentado concorrência em mercados internacionais, perdendo espaço para suas exportações em alguns setores, em parte devido aos acordos comerciais que a China tem firmado com outros países e blocos econômicos.
As questões ambientais também representam um desafio, com preocupações sobre o impacto ambiental de alguns investimentos e projetos chineses no Brasil. Sendo necessário encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental.
Apesar desses desafios, existem várias oportunidades que podem ser exploradas. A complementaridade econômica entre os dois países oferece potencial para ampliar e diversificar as exportações brasileiras para a China, além de atrair mais investimentos chineses, especialmente em infraestrutura e energia.
A coordenação em fóruns internacionais também é uma área promissora, onde Brasil e China podem aprofundar sua cooperação e fortalecer suas posições comuns em questões globais, como mudanças climáticas e a reforma da governança global.
No campo do intercâmbio cultural e educacional, há espaço para aumentar o fluxo de estudantes, pesquisadores e profissionais entre os dois países, promovendo o entendimento mútuo através de iniciativas culturais.
Além disso, Brasil e China podem explorar parcerias em terceiros mercados, especialmente na África e América Latina, onde há oportunidades para cooperação em projetos de desenvolvimento.
A economia verde também é um campo fértil para a cooperação, com potencial para colaboração em áreas como agricultura de baixo carbono, veículos elétricos e finanças verdes.
O posicionamento do Brasil sobre Taiwan
O posicionamento do Brasil em relação à questão Taiwan-China é claro e está alinhado à política de “Uma Só China”.
O Brasil reconhece oficialmente o governo da República Popular da China como o único governo legítimo que representa toda a China, e, em conformidade com essa política, não mantém relações diplomáticas oficiais com Taiwan.
Em declarações oficiais, o governo brasileiro tem reiterado seu apoio à política de reunificação pacífica promovida pelo governo chinês e se opõe a qualquer movimento unilateral que possa alterar o status quo ou aumentar as tensões no Estreito de Taiwan.
Embora não mantenha relações diplomáticas, o Brasil permite que Taiwan mantenha Escritórios Econômico e Cultural no país, porém, sem status diplomático.
Em fóruns internacionais e em comunicados conjuntos com a China, o Brasil reafirma seu compromisso com o princípio de Uma Só China, considerando a questão de Taiwan um assunto interno da China, evitando interferir diretamente nessa questão.
Essa posição tem sido consistente ao longo dos anos e é vista como um pilar importante nas relações Brasil-China.
O Brasil busca manter uma postura equilibrada, priorizando a estabilidade regional e as relações econômicas e diplomáticas com a China continental.

No comment yet, add your voice below!